Se o que pretende é ficar a saber um pouco mais sobre alguns artigos tradicionais que nos caracterizam como pessoas e artesãos, deixamos-lhe aqui algumas informações que esperamos possam acrescentar algo à sua curiosidade. Falaremos sobre Ouro, Prata, e Pedras Preciosas, mas mais do que isso, sobre formas, modelos, e peças intemporais tão arreigadas à nossa Nacionalidade enquanto povo.
Uma boa parte dos documentos que nos chegam aos dias de hoje, referem-se ao trabalho evidenciado nestes brincos como cópias adaptadas dos brincos e laças que apareceram em Portugal no reinado de D. Maria I (no denominado período Rocaille) é contudo a história da oferta de um par de brincos com esta características à rainha D. Maria II, quando da sua visita a Viana do Castelo em 1852 (4 anos após a ter elevado a cidade) que mais sentido traz ao nome pelo qual passaram a ser conhecidos.
Na região de Viana e todo o norte de Portugal, os nomes variam entre brincos à rainha, à moda da rainha, de mulher fidalga ou burguesa rica. Com base no principio das laças, simplificaram-se as formas e retiraram-se as pedras preciosas criando-se um efeito alternativo conseguido com a inclusão de saliências. Passou a utilizar-se como matéria prima de base também a prata, muitas vezes também dourada, e reuniram-se os "ingredientes" para transformar uma peça mais exclusiva num objecto de adorno acessível a todos.
Mas nem sempre foi assim, desde séculos atrás até quase aos nossos dias, estes brincos icónicos não se faziam nem se usavam senão em ouro e se privilegiavam maioritariamente os modelos grandes. Nesta região de Viana e em todo um Portugal mais a norte, as suas formas e o seu valor vêm desde então associados a muitas outras tradições que envolveram uma sociedade muito matriarcal, onde as mulheres desenvolveram um papel preponderante na gestão da família e dos bens que conquistavam e geriam como dotes em casamento. Possui-los, assim como possuir muito ouro, era sinal de status, poder e sucesso. Ao valor juntam-se as formas que, mesmo evoluindo nos tempos, assumem características comuns com outros brincos, amuletos e objectos de adorno em ouro, com formas curvilíneas e arredondadas que apelam ao universo feminino e a crenças antigas de atracção de fertilidade.
Tudo, sem esquecer as semelhanças que este tipo de trabalho manual de artesãos portugueses traz à lembrança, a dos tão característicos trabalhos de renda tradicional.
Embora a expansão desta técnica de ourivesaria tenha tido um grande impulso no Séc. XVIII, é um tipo de trabalho referenciado como proveniente da região mediterrânica e do qual existem vestígios e artefactos em Portugal que remontam a períodos anteriores a 2000 a.C.
Quando se fala em filigrana fala-se pois de uma técnica de trabalho de metais muito típica e muito explorada pela ourivesaria tradicional portuguesa e cujos artesãos produzem as filigranas mais finas e melhor elaboradas de todo o mundo.
Quase sempre o trabalho começa pela existência de um esqueleto inicial que lhe define as formas exteriores e só posteriormente se efectua o preenchimento interior que também ele é feito por fases. que muitas vezes passam pela definição de outras formas interiores e só depois levam ao preenchimento a fio ainda mais fino e delicado. Adicionalmente podem ser incluídas outras decorações sobrepostas e entre as quais são muito vulgares as flores e os esmaltes. De simples fios em ouro e prata manual e finamente puxados criam-se peças que nos remetem para tantos outros trabalhos de renda delicados que nos representam como país e como artesãos.
Se bem que nos trabalhos mais antigos de que se temos conhecimento os desenhos e as formas se associem a crenças e ao profano, com o aparecimento do cristianismo as filigranas passam também a assumir novas formas que facilmente se identificam com a profunda religião de um povo. Daí que seja muito vulgar verem-se reproduzidas em filigrana não só as mais diversas peças, tais como cruzes, relicários, corações de Viana, imagens da Nª Sra de Fátima e do Sto António de Lisboa, bem como, muitos outros motivos inspirados em crenças, lendas tradicionais ou na história de Portugal como sejam os brincos à Rainha, as arrecadas, as contas de Viana, os galos de Barcelos, as caravelas portuguesas, sardinhas, guitarras, corações, borboletas, flores etc.
Falar de Filigrana é falar, inevitavelmente, do já famoso Coração de Viana.
Para sempre associado à cidade de Viana do Castelo este símbolo da cidade é antes referenciado como surgido nos finais do século XVIII e como símbolo dedicado ao culto do Sagrado Coração de Jesus. Grande parte dessa fama adquirida terá surgido no tempo de D. Maria I que, se diz, terá mandado executar um em ouro em cumprimento de uma promessa efectuada ao Sagrado Coração de Jesus, como forma de garantir a graça de lhe ser concedido um filho varão. Foi também essa graça concedida que deu azo à construção da Basílica da Estrela.
Em defesa dessa simbologia consta que em representação das chamas deste símbolo como sagrado estão as cornucópias colocadas no topo do coração de Viana.
De símbolo conotado com a religião acabaria, com o passar do tempo, a ser relacionado com o amor profano e como símbolo da ligação entre homem e mulher. De peça exclusiva e delicada em ouro e prata rapidamente passaria a ser reproduzido e bordado em lenços tradicionais e para sempre associado às quadras de cariz popular alusivas ao Amor que tantas vezes os acompanhavam.
Segundo rezam as crónicas do tempo em que os Portugueses demandaram a outras partes e chegaram ao Brasil, a busca foi sempre orientada para a procura de riquezas, muito em particular a do ouro. Se nos primeiros tempos os rumores eram muitos e a concretização não tão abundante, a pouco e pouco foram surgindo focos concretos de descoberta de várias riquezas em pedras e ouro que o confirmaram antes e ainda hoje em dia como uma potência económica na área da mineração, em especial de pedras preciosas por via da riqueza geológica dos seus solos.
Com a criação dos "bandeirantes" essa demanda veio a revelar-se ainda mais certa e organizada já que passaram a existir regras muito concretas, definidas pela Coroa Portuguesa, sobre a forma como deveria ser efectuada a divisão das riquezas e respectivo tributo à Coroa (ver regra dos quintos). É nesse período que uma pequena localidade veio a revelar-se ainda mais conhecida, por força dos relatos transmitidos à Coroa Portuguesa que dão conta da existência de uma zona onde apareceram umas "minas novas". É daí que se diz retirado aquele que viria a ser o nome definitivo da agora localidade de Minas Novas e onde constam ter aparecido as primeiras pedras que viriam para Portugal e assim apelidadas por associação com o seu local de proveniência.
Na verdade e apesar de vulgarmente apelidadas de "minas novas" esse nome acabou por ser atribuído a todo um tipo de pedras que em comum, possuíam ausência de coloração e uma mesma tonalidade e brilho. O mais comummente trabalhado acabou por ser uma pedra natural, tecnicamente apelidada de quartzo hialino e mais vulgarmente conhecida como Cristal Rocha.
Pedras com um brilho lindíssimo muito característico (claro e suave por contraponto com os diamantes que lapidados assumem um brilho mais intenso), foram das primeiras a prestar-se para serem usadas em lindíssimas jóias que começaram por fazer furor junto dos joalheiros da corte. Algumas ainda hoje permanecem em museus ou na mão de descendentes de algumas dessas famílias antigas.
Hoje, com técnicas de fabrico melhoradas, já existem muito poucos artesãos a reproduzir quer modelos de outrora quer modelos mais actuais, contudo os que existem ainda recriam na perfeição o encanto que só estas pedras e este tipo de trabalho permite. Por este motivo, possuir este tipo de jóias é também possuir algo que a distingue de todos os que optam por tanta jóia de produção em série.